terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Deus nas horas de Solidão


                               -Deus nas horas de Solidão - 




Não te assustarás do terror noturno.

Salmos 91.5


Qual é este terror? Pode ser o grito de incêndio, o barulho de ladrões ou o choro de uma morte repentina. Vivemos em um mundo de morte e pesares. Por conseguinte, podemos esperar dificuldades nas vigílias da noite, bem como sob o esplendor do sol da tarde.
Nada nos deveria alarmar, por causa da promessa de que o crente não ficará temeroso. Deus, o nosso Pai, está aqui e estará durante todas as horas de solidão. Ele é um Vigilante todo-poderoso, um Amigo fiel, um Guarda que não dorme. As trevas não constituem escuridão alguma para Deus. Ele prometeu ser uma muralha de fogo ao redor de seu povo, quem poderá atravessar essa muralha?
Aqueles que não conhecem a Deus têm de ficar atemorizados, pois eles têm sobre si mesmos um Deus irado, uma consciência culpada dentro de si mesmos e um inferno boquiaberto embaixo de si mesmos.
Nós, porém, que descansamos em Jesus estamos salvos de todas estas coisas, por intermédio de sua abundante misericórdia. Se dermos ocasião ao temor, desonraremos aquilo que confessamos crer e levaremos outras pessoas a duvidarem da veracidade de nosso cristianismo.
Devemos ter medo de ficar temerosos, para que não entristeçamos o Espírito Santo, por meio de nossa incredulidade medíocre. Jogue fora presságios sombrios e apreensões sem fundamento. Deus não esqueceu de ser gracioso, nem embargou as suas ternas misericórdias. Pode ser noite em nossa alma, porém ali não há terror, porque o Deus de amor é imutável. Os filhos da luz podem andar por caminhos escuros, mas não serão abandonados. Eles confirmam a sua eleição por meio de confiarem em seu Pai celestial.


                                              Luciofidalgo

Nosso Medo Desonra Deus


                               Nosso Medo Desonra Deus 


- Não te assustarás do terror noturno - Sl 91.5 -

Qual é este terror? Pode ser o grito de incêndio, o barulho de ladrões ou o choro de uma morte repentina. Vivemos em um mundo de morte e pesares. Por conseguinte, podemos esperar dificuldades nas vigílias da noite, bem como sob o esplendor do sol da tarde. Nada nos deveria alarmar, por causa da promessa de que o crente não ficará temeroso.
 Deus, o nosso Pai, está aqui e estará durante todas as horas de solidão. Ele é um Vigilante todo-poderoso, um Amigo fiel, um Guarda que não dorme. As trevas não constituem escuridão alguma para Deus. Ele prometeu ser uma muralha de fogo ao redor de seu povo, quem poderá atravessar essa muralha?
Aqueles que não conhecem a Deus têm de ficar atemorizados, pois eles têm sobre si mesmos um Deus irado, uma consciência culpada dentro de si mesmos e um inferno boquiaberto embaixo de si mesmos. Nós, porém, que descansamos em Jesus estamos salvos de todas estas coisas, por intermédio de sua abundante misericórdia.
Se dermos ocasião ao temor, desonraremos aquilo que confessamos crer e levaremos outras pessoas a duvidarem da veracidade de nosso cristianismo. Devemos ter medo de ficar temerosos, para que não entristeçamos o Espírito Santo, por meio de nossa incredulidade medíocre. Jogue fora presságios sombrios e apreensões sem fundamento. Deus não esqueceu de ser gracioso, nem embargou as suas ternas misericórdias. Pode ser noite em nossa alma, porém ali não há terror, porque o Deus de amor é imutável. Os filhos da luz podem andar por caminhos escuros, mas não serão abandonados. Eles confirmam a sua eleição por meio de confiarem em seu Pai celestial.

                                                                 LucioFidalgo

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Verdade Não é Segundo os Homens


                       -A Verdade Não é Segundo os Homens -


Eu desejo afirmar isso com clareza. Se alguém pensa que o evangelho é apenas mais uma de muitas religiões, então deixo-ocomparar, honestamente, a Palavra de Deus com outras pretensas revelações. Vocês já o fizeram alguma vez? Programei isso como um exercício para os alunos no Colégio de Pastores. Tenho dito a vocês: vamos ler um capítulo do Alcorão. Este é o livro sagrado dos muçulmanos. Um homem precisa ter uma mentalidade muito estranha para confundir essa baboseira com declarações inspiradas. Se ele está familiarizado com o Velho e o Novo Testamentos, quando ele ouve um trecho do Alcorão, sente-se como se estivesse diante de um autor estrangeiro; o Deus que nos deu o Pentateuco nada tem a ver com as porções do Alcorão.
Uma das maiores pretensões modernas à inspiração, é o livro dos Mórmons. Eu não os culparia se gargalhassem enquanto leio em voz alta uma página dessa mixórdia. Quem sabe vocês conhecem o protoevangelho, e outros livros apócrifos do Novo Testamento. Seria um insulto ao julgamento do menor no reino dos céus, supor que ele se confundiria entre a linguagem dessas falsificações, e a linguagem do Espírito Santo. Várias dessas pretensas revelações têm sido submetidas a mim para apreciação pelos seus autores. De fato, existe muito mais do clã profético por aí, do que muita gente pensa; mas, nenhum deles imprimiu na minha mente a mais leve suspeita de estar compartilhando algo da inspiração de João, ou de Paulo. Não há como se equivocar quanto aos livros inspirados, se tiver qualquer discernimento espiritual. Uma vez que a divina luz surge em sua alma, você perceberá o colorido e o estilo no produto de inspiração que não é possível para mero homem produzir. Será que aquele que duvida disso pode escrever o quinto Evangelho?
Será que alguém entre nossos poetas se atreveria a escrever um novo salmo, que pudesse ser tomado por um salmo de Davi? Eu não vejo porque ele não pode, mas tenho a certeza que não seria capaz disso. Podemos produzir novos salmos, pois é instintivo na vida do cristão cantar louvores a Deus, porém tais salmos não poderão igualar a glória da canção divinamente inspirada. Portanto recebemos as Escrituras, e conseqüentemente o evangelho, como não sendo "segundo os homens".
Quem sabe alguém pode dizer: "você está comparando livros, e esquecendo que seu tema é o evangelho". Mas isso é só na aparência. Não quero gastar o seu tempo, pedindo-lhe que compare o evangelhos dos homens. Não existe nenhum outro evangelho que eu saiba que valha a pena comparar, nem por um minuto. "Oh," eles dizem, "mas há um evangelho mais amplo que o vosso." Sim, eu sei que é mais amplo que o meu; contudo, ao que conduz? Eles dizem que aquilo que é apelidado de calvinismo, tem uma porta muito estreita. Há uma passagem nas Escrituras sobre uma porta estreita e um caminho apertado; e portanto, eu não fico alarmado pela acusação. Mas além disso, você descobre que há pastos ricos, uma vez que penetra, e isso faz com que valha a pena entrar pela porta estreita. Certos outros sistemas têm portas bem amplas, todavia conduzem a pequenos privilégios, e a precários títulos de posse. Eu ouço falar de certos convites que são mais ou menos assim: "Venham, vocês que estão desconsolados; mas, se vierem, ainda assim continuarão desconsolados, pois não haverá nenhuma vida eterna garantida a vocês e terão que preservar suas próprias almas, ou morrerão ao final". Contudo, não farei comparações, pois neste caso são odiosas.
O evangelho, nosso evangelho, está além do esforço e alcance do pensamento humano. Quando os homens tiverem se esforçado ao máximo em concepções originais, ainda assim, não terão assimilado o verdadeiro evangelho. Se é uma coisa tão comum como os críticos querem que acreditemos, por que então isso não surgiu nas mentes dos egípcios ou chineses? Grandes intelectos freqüentemente correm no mesmo sulco; porque, outras mentes grandes não correram nos mesmos sulcos que Moisés, ou Isaías, ou Paulo? Eu creio ser justo dizer que, se é algo tão comum na sua forma de ensino, poderia ter surgido entre os persas ou hindus; ou, certa­mente, poderíamos ter achado algo semelhante entre os grandes mestres da Grécia. Acaso algum desses conseguiu descobrir a doutrina da livre e soberana graça? Eles teriam cogitado sobre a encarnação e o sacrifício do Filho de Deus? Não, mesmo com o auxílio do nosso inspirado Livro, nenhum muçulmano, pelo meu conhecimento, tem ensinado um sistema da graça na qual Deus églorificado quanto a Sua justiça, Seu amor, e Sua soberania. Essa religião tem proclamado um certo tipo de predestinação que ela transformou num fatalismo cego; mas mesmo com isso para os ajudar, e a vinculação com a divindade como uma luz poderosa para os guiar, nunca conse­guiram elaborar um plano de salvação tão justo para Deus, e tão pacificador para uma consciência perturbada, como o método de redenção baseado na substituição vicária do nosso Senhor Jesus Cristo.
Vou dar-lhes outra prova, que para mim é conclusiva, que nosso evangelho não é "segundo os homens". E isto: o evangelho é imutável, e nada que o homem pode produzir pode ser assim chamado.
Se um homem faz um evangelho - e ele gosta de fazer isso tanto como uma criança gosta de construir brinquedos - o que ele faz? Ele se encanta com o brinquedo por alguns momentos, logo após arranca os pedaços do brinquedo, e o forma de outra maneira. Faz isso continuamente. As religiões do "pensamento moderno" são tão mutáveis como a névoa das montanhas. Veja com que freqüência a ciência alterou suas próprias bases! A ciência é notoriamente conhecida por ser muito científica na sua destruição de todo conhecimento científico que antes existiu.
As vezes tenho me saciado, em momentos de lazer, lendo história natural antiga, e nada pode ser mais cômico. No entanto, isso não é de maneira alguma uma ciência enigmática. Dentro de vinte anos, provavelmente alguns de nós achem grande divertimento nos ensinos sérios da ciência da hora atual, semelhante ao que achamos agora nos sistemas do século passado. Pode acontecer que, em pouco tempo, a doutrina da evolução se torne numa galhofa para colegiais. O mesmo é verdade sobre a moderna devoção que dobra seus joelhos em cega idolatria da falsamente chamada ciência. Agora declaramos, de todo coração, que o evangelho que pregamos quarenta anos atrás continuaremos a pregar por mais quarenta, se ainda estivermos vivos. Ainda mais, afirmamos que o evangelho ensinado por nosso Senhor e os Seus apóstolos, é o único evangelho que existe na face da terra. Os eclesiásticos alteraram o evangelho, e se ele não viesse de Deus, teria sido sufocado pela falsidade há muito tempo; mas, visto que o Senhor é o autor do evangelho, ele perdura para sempre. Todo ser humano é lunático; desse modo ele muda com cada fase da lua, porém a Palavra do Senhor não é "segundo os homens" pois ela é a mesma ontem, hoje, e para sempre.
Reiteramos, não pode ser "segundo os homens" porque ela se opõe ao orgulho humano. Outros sistemas envaidecem os homens, mas este fala a verdade. Ouça os sonhadores de hoje procla­mando a dignidade da natureza humana! Quão sublime é o homem! No entanto, mostre-me uma sílaba sequer na qual a Palavra de Deus se envolve na exaltação do homem. Ao contrário, coloca-o no próprio pó e revela a sua condenação.
Onde está a jactância? E excluída: a porta fecha-se na sua cara. A auto-glorificação da natureza humana é alheia às Escrituras, cujo principal objetivo é a glória de Deus. Deus é tudo no evangelho que eu prego, e creio que Ele é supremo no ministério de você também. Existe um evangelho na qual a obra e a glória são divididas entre Deus e o homem, e a salvação não é inteiramente pela graça; porém, em nosso evangelho "a salvação provém do Senhor".
O homem jamais poderia inventar um evangelho que o humilhasse deveras, e que atribuísse toda a glória, honra, e louvor ao Senhor Deus. Jamais planejaria tal evangelho. Isso me parece ser claro, além de toda questão; portanto, nosso evangelho não é "segundo os homens".
Outra coisa, não é "segundo os homens" porque ele não dá nenhum abrigo ao pecado. Ouvi falar de um inglês que se professou muçulmano porque ficou encantado com a poligamia que o profeta árabe permite aos seus seguidores. Sem dúvida a perspectiva de ter quatro esposas ganharia convertidos que não se sentiriam atraí­dos por considerações espirituais. Se alguém pregar um evangelho que faz concessões à natu­reza humana, e trata do pecado como se fosse um engano em vez de grande ofensa contra Deus, encontrará ouvintes ávidos. Se você providenciar absolvição a um pequeno custo, e aliviar a consciência com um pouco de auto-renúncia, não seria de admirar se sua religião entrasse em moda. Mas o nosso evangelho declara que o salário do pecado é a morte, e que só podemos ter vida eterna como dom de Deus; e esse dom sempre traz tristeza pelo pecado, ódio a ele e o apartar-se dele.
O nosso evangelho nos ensina que o homem precisa nascer de novo, e que sem o novo nascimento ele estará perdido para sempre, ao passo que, com ele, obterá salvação eterna. O nosso evangelho não oferece desculpa ou cobertura para o pecado, porém o condenacompletamente. Não apresenta perdão, exceto através da expiação, e não oferece segurança nenhuma para o homem que abriga qualquer pecado dentro de si. Cristo morreu pelo pecado, e nós precisamos morrer para o pecado, ou morreremos eternamente. Se formos pregar o evangelho com fidelidade, então devemos também pregar a Lei. Não se pode pregar plenamente a salvação mediante o Senhor Jesus Cristo, sem colocar o Sinai como pano de fundo e o Calvário na frente. Os homens precisam sentir a malignidade do pecado, antes que possam apreciar o grande sacrifício que é o ápice e o cerne do nosso evangelho. Isso não é agradável para esta ou qualquer outra época; por conseguinte, eu tenho certeza que não foi inventado por homem algum.
Sabemos que o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo não é "segundo os homens" porque o nosso evangelho é tão apropriado para os pobres e iletrados. Os pobres, de acordo com sistema dos homens, são ignorados. O parlamento tem cercado todas as áreas livres, de maneira que um homem pobre não pode manter sequer uma ave. Não duvido que, se fosse viável e eficaz, logo teríamos notícia de uma concorrência para distribuir títulos de posse das estrelas entre certos senhores de renome. É evidente que há propriedades excelentes nas regiões celestiais que ainda não se encontram registradas nos cartórios da terra. Bem, seria mais fácil noticiar o sol, a lua, e as estrelas do que o evangelho do Senhor Jesus. Este é o terreno do homem pobre. "Aos pobres é pregado o evangelho". No entanto, não são poucos os que desprezam um evangelho que os pobres podem ouvir e compreender; e podemos ter certeza que o evangelho simples não veio deles, pois a sua inclinação não pende para essa direção. Eles querem algo obscuro, ou, como eles dizem, "reflexivo". Acaso não ouvimos este tipo de comentário: "Nós somos intelectuais, e precisamos de um ministério culto. Esses pregadores evangelistas, servem muito bem paraassembléias populares, mas nós sempre fomos seletos, e requeremos aquela pregação que está em dia com os tempos atuais"? Sim, sim, e a escolha deles será alguém que não vai pregar o evangelho, a não ser de uma maneira nebulosa; pois se ele realmente proclamar o evangelho de Jesus, os pobres com certeza se farão presentes, e espantarão os grã-finos.
Irmãos, nosso evangelho não tem nada com alto e baixo, rico ou pobre, negro e branco, culto ou inculto. Se faz alguma diferença, ele prefere os pobres e oprimidos. O grande Fundador diz: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos". Louvamos a Deus que escolheu as coisas simples, e as desprezadas. Eu ouço que o ministério de um homem tem sido elogiado - embora sua congregação esteja diminuindo gradualmente -pois tal homem tem feito um grande trabalho entre os jovens intelectuais. Confesso que não creio na existência de tais jovens intelectuais; tenho visto que aqueles que se enganam com coisas assim, geralmente podem ser conside­rados mais presunçosos do que intelectuais. Os homens jovens são todos muito bons, como também as jovens mulheres, e mesmo as mulheres idosas; mas eu fui enviado para pregar o evangelho a toda criatura, e não posso limitar-me aos jovens intelectuais. Eu certifico-lhes que o evangelho que tenho pregado não é "segundo os homens", pois desconhece a seleção e exclusividade, porém, valorizo a alma do var­redor ou do lixeiro tanto como a do primeiro ministro ou a da sua majestade, a rainha.
Finalmente, temos certeza que o evangelho pregado por nós não é "segundo os homens" porque eles não o levam em consideração. Ele é combatido até hoje.
Se existe algo amargamente odiado, é o puro evangelho da graça de Deus, especialmente se for mencionada a detestável palavra "soberania". Atreva-se a dizer: "Ele terá misericórdia de quem tiver misericórdia, e Ele terá compaixão de quem tiver compaixão," e os críticos furiosos vão lhe revidar sem se pouparem. O religioso moderno não só odeia a doutrina da graça soberana, mas ele ruge e se enfurece só em ouvi-la mencionada. Na verdade, ele preferiria ouvir alguém blasfe­mar a ouvi-lo pregar a eleição pelo Pai, expiação pelo Filho, e regeneração pelo Espírito Santo. Se quiser ver um homem transtornado até que o satânico predomine, deixe que alguns dos neófitoseclesiásticos ouçam você pregar um sermão sobre a livre graça. Um evangelho "segundo os homens" será bem vindo pelos homens; porém, precisa de uma operação divina no coração e na mente para tornar um homem disposto a receber, no fundo de sua alma, este indigesto evangelho da graça de Deus.
Meus queridos irmãos, não tentem fazer o evangelho aceitável às mentes carnais. Não escondam a ofensa da cruz ou vocês a tornarão sem efeito. Os ângulos e os cantos do evangelho são sua força, privá-lo destes é tirar o seu poder. Disfarçá-lo não é aumentar sua força, e sim, levá--lo à morte. Ora, mesmo entre as seitas, vocês já devem ter notado que seus pontos distintivos são os braços de seu poder, e quando esses pontos são praticamente omitidos a seita perde seu poder. Aprendam, então, que se tirarem Cristo do cristianismo, o cristianismo estará morto. Se removerem a graça do evangelho, o evangelho deixa de existir. Se as pessoas não gostam da doutrina da graça, dê-lhes isso intensamente. Mesmo quando os opositores reclamam sobre um certo tipo de arma, um poder militar sábio proverá muito mais dessa espécie de artilharia. Um grande general, aproximando-se de seu rei tropeçou em sua própria espada. "Eu vejo", disse o rei, "sua espada está lhe atrapalhando". O guerreiro respondeu: "Os inimigos de sua majestade freqüentementesentem o mesmo". O fato de nosso evangelho ofender os inimigos do Rei não nos entristece.
Queridos amigos, se realmente não recebemos nosso evangelho de homens mas de Deus, então continuemos recebendo a verdade através do divinamente designado canal da fé . Porventura têm certeza que um dia realmente entenderão a Palavra de Deus? Para a maioria de nós o entendimento é como um estreito portão de entrada para a "cidade da Alma Humana", e as grandes coisas de Deus não podem ser dimi­nuídas para poderem passar por aquela entrada. A porta não é bastante larga. Todavia, nossa cidade tem um grande portão chamado fé, através do qual até o infinito e o eterno podem ser admitidos. Pare com este esforço inútil de trazer à mente, pela razão, aquilo que tão facilmente pode habitar em você pelo Espírito Santo através da fé.
Nós que falamos contra o racionalismo somos inclinados a ser demasiadamente racionais; e não há nada tão irracional quanto esperar receber as coisas de Deus através da razão. Creiamos nelas através do testemunho divino, e quando elas nos provarem ou mesmo parecerem ofender nossa sensibilidade humana, ainda assim que as recebamos por serem divinas. Não devemos opinar sobre o que deve ser a verdade de Deus; temos que aceitá-la como Deus a revela.
A seguir, que cada um de nós aguarde oposição se ele receber a verdade do Senhor, e especialmente oposição de uma pessoa que é próxima e querida por ele - a saber - ele mesmo. Há um velho homem que ainda vive, e que não é um amante da verdade, mas, pelo contrário, ele é um parceiro da falsidade. Ouvi um policial dizer que quando esteve em Trafalgar Square, e uns sujeitos desprezíveis o agrediam, assim como a outro policial, ele sentia um osso do velho homem mexendo dentro dele. Ah, sentimos esse osso muito freqüentemente! A natureza carnal se opõe à verdade, pois ela não está reconciliada com Deus, e nem, na verdade, poderia estar. Oremos ao Senhor para vencer nosso orgulho, para que a verdade nos domine, apesar de nosso coração mau. Quanto à oposição do mundo exterior, não devemos estar alarmados com os fatos, pois fomos ensinados a aguardá-los. Agora as oposiçõesnão nos preocupam. O capitão de um navio não se importa se um borrifod’água cair sobre ele.
Lembre-se, se você não recebeu a verdade senão pelo poder do Espírito de Deus, não pode esperar que os outros a recebam. Eles nãocrerão em seus relatos a não ser que o braço do Senhor lhes seja revelado. Mas depois, se a fé for operada pelo Espírito Santo, não precisamos temer que os homens possam destruí-la. Aqueles que tentarem mudar a nossa crença bem podem ter dúvidas quanto ao seu sucesso nessa proeza! Se a fé for operada divinamente em nossas almas, podemos vencer todos os sofismas, elogios, tentações e ameaças. Seremos divinamente obstinados; aqueles que tentarem nos perverter terão de desistir. Possivelmente eles nos chamem de fanáticos, ou intolerantes, ou mesmo idiotas; mas isso significa pouco se nossos nomes esti­verem escritos no céu.
Em conclusão podemos deduzir do nosso texto que se estas coisas nos vierem da parte de Deus, podemos descansar completamente nelas.Se elas vieram de homens, provavelmente nos falharão em meio a uma crise. Você alguma vez confiou em homens sem ter se arrependido antes mesmo que o sol se pusesse? Alguma vez você se apoiou num braço de carne sem descobrir que os melhores dos homens são apenas homens no melhor dos casos? Mas se estas coisas vem de Deus elas são eternas e totalmente suficientes. Podemos viver e morrer confiando no evangelho eterno. Vamos viver mais e mais com Deus, e com Ele somente. Se temos recebido luz dEle há mais bênçãos a serem alcançadas. Vamos àquele Mestre para aprendermos mais das coisasprofundas de Deus. Creiamos corajosamente no sucesso do evangelho que temos recebido. Cremos nele, creiamos por ele. Não nos desesperaremos embora a Igreja visível, como um todo, possa apostatar. Quando os invasores cercaram Roma, e toda a região ficou à mercê deles, um terreno estava à venda, e um romano o comprou por um valor justo. O inimigo estava lá, mas ele seria desalojado. Talvez o inimigo destruísse o Estado romano. Deixe-o tentar! Tenha você a mesma firmeza. O Deus de Jacó é o seu refúgio, e ninguém pode resistir Seu eterno poder e deidade. O evangelho eterno é nossa bandeira, e com Jeová para sustentá-lo, nosso padrão nunca baixará. No poder do Espírito Santo a verdade é inven­cível. Venham, hostes do inferno e exército do inimigo! Que a sutileza, a destreza, o raciona­lismo e o sacerdócio façam o pior que puderem!
A Palavra do Senhor dura para sempre -aquela mesma Palavra a qual pelo evangelho é pregada entre os homens.

                              LucioFidalgo

Fale por si mesmo. Um desafio!


                            Fale por si mesmo. Um desafio! 

Domingo, 09 de Dezembro de 1877

"Perguntem a ele. Idade ele tem; falará por si mesmo" (João 9.21).

Aqueles entre vocês, caros amigos, que me ouviram em outra ocasião, por certo se lembrarão que nosso assunto era "Jesus Cristo, ele mesmo". Dedicamos atenção à sua bendita pessoa. Nossa fé se fixa nele; nossas afeições são atraídas para ele; todas as nossas esperanças se inclinam na direção dele. Embora tudo que ele tenha dito ou feito seja precioso, é a própria pessoa de Jesus que ocupa o primeiro lugar na nossa estima. Conhecê-lo, crer nele, amá-lo, é a própria essência do cristianismo. Nesta noite, mudamos nosso tema. Há um "ele mesmo" no texto por nós adotado nesta noite - embora esse "ele mesmo" seja de ordem mais humilde. Qual é a situação de cada um de nós para consigo mesmo? Nossa individualidade e as responsabilidades pessoais que recaem sobre nós mesmos em relacionamento com Cristo não devem ser perdidas de vista. Se, por exemplo, um milagre espiritual foi operado em nós, se somos obrigados a confessar - melhor, se nos deleitarmos em confessar - que ele abriu os nossos olhos, então, temos o dever de dar o nosso próprio testemunho sobre dele. A alegação e o apelo podem aplicar-se a cada um de nós igualmente. "Idade ele tem; perguntem a ele; falará por si mesmo." O próprio Jesus Cristo, ele mesmo, carregou os nossos pecados, conforme ouvimos nesta manhã. Ele deu a si mesmo por nós, ele serviu a nós, não por procuração, mas por consagração pessoal; não por esmolas regateadas de modo doloroso, mas pela sua vida entregue espontaneamente como sacrifício a Deus. Já que ele assim nos recomendou seu amor, o mínimo que podemos fazer, com gratidão, é dar o nosso próprio testemunho pessoal dele, com coragem e ousadia.
Que paralelo há entre o caso desse homem e o nosso próprio! Ele sofrera um mal grave e pessoal. Nascera cego. E assim também, nós nascemos no pecado. O pecado lançou sua sombra sobre nossas faculdades desde o nosso nascimento. Nunca nos esqueceremos da meia-noite da nossa natureza. Nem sequer podíamos enxergar as belezas do próprio Cristo, embora ele fosse resplandecente como o sol ao meio-dia, pois éramos tão cegos. Esse homem foi liberto pessoalmente do seu mal, e, assim também, nós fomos libertos. Vocês receberam, assim como recebeu o cego, uma bênção pessoal, sendo que nos foi outorgada a vista. O defeito que arruinava a sua vida foi curado. Não se trata de alguém olhar em lugar de você, e então contar a você o que ele vê, mas você vê por conta própria. Não lhe é imputado que você consegue enxergar, por você ter sido informado o que outra pessoa viu. Agora, você não tem procurador nessa questão, nenhum patrocinador nesse negócio. Você mesmo está consciente de que uma obra de graça foi realizada em você: ao passo que você era cego, agora você vê, e tudo sabe. O cego foi curado mediante a obediência ao mandamento de Cristo. Ouviu uma chamada especial dirigida a ele: "Vá lavar-se no tanque." Ele foi e voltou vendo. E muitos aqui presentes escutaram a voz que diz: "Creia e viva", e ela chegou até você, não como uma exortação geral, mas como orientação específica. Vocês creram e realmente vivem. Vocês se lavaram e voltaram vendo. Pois bem, tudo isso é pessoal, e por isso, o seu Senhor e Mestre tem o direito de esperar que você dê testemunho do seu poder para salvar. Você é maior de idade. Quando alguém lhe perguntar, confio que falará por si mesmo. Tome a palavra e fale com firmeza em favor do seu Mestre, sem hesitação nem medo.

I. HÁ OCASIÕES EM QUE OS HOMENS SALVOS SÃO OBRIGADOS A FALAR POR ELES MESMOS. Devem, por necessidade, dar seu testemunho pessoal.
O que mais podem fazer quando seus amigos os abandonam? O pai e a mãe estavam dispostos a reconhecer esse jovem como filho deles, bem dispostos a dar testemunho de que ele nascera cego, mas não queriam ir além disso. Se quisessem, poderiam ter falado mais, mas tinham medo da sentença de excomunhão, a respeito da qual os judeus já tinham concordado entre si: se alguém confessasse que Jesus era o Cristo, seria expulso da sinagoga. Portanto, os pais sentiram pouco remorso ao se recusarem a assumir qualquer responsabilidade pessoal, pois tinham grande confiança (provavelmente bem fundamentada) na capacidade que seu filho tinha de cuidar de si mesmo, e assim, o abandonaram. Lançaram sobre ele todo o ônus e a tensão de dar uma resposta clara, que o teria incorrido em semelhante censura. Os pais tiraram o corpo fora, para não serem perseguidos porque seu filho cego recebeu a bênção da recuperação da vista. O jovem que fora cego devia, portanto, batalhar por conta própria em favor do bom Senhor que lhe outorgara semelhante benefício. "Perguntem a ele", disseram seus pais, "ele falará por si mesmo."
Existem situações entre muitos jovens, nas quais, mesmo que os pais não desaprovem a religião deles, os tratam com frieza e não demonstram simpatia por sua fé nem por seus sentimentos. Alguns entre nós nos regozijamos quando nossos filhos se convertem. Não sentimos vergonha de tomar o partido deles, de defendê-los e protegê-los de quaisquer consequências que surgirem. Mas existem pais e mães que não gostam das coisas de Deus e, assim, caso seus filhos se convertam, enfrentam uma situação muito difícil. Já soube de alguns que professam ser discípulos de Cristo, que recuam de modo muito suspeito, e deixam por conta de outras pessoas a defesa da causa de Cristo, diante de uma investida vigorosa. Em determinada conversa, esperava-se ouvir aquele cavalheiro já de certa idade tomar a palavra para defender com coragem a verdade do evangelho, mas ele nada fez. Sabia-se que ele era membro de uma igreja cristã, no entanto, conteve-se cautelosamente por longo tempo, e depois, em voz baixa, disse algo a respeito de não lançar pérolas aos porcos. Provavelmente, ele nem tivesse pérolas ou fosse ele mesmo um porco. Que outra explicação se pode dar a tamanha covardia? Mas também sabemos, no ardor juvenil, como é assumir uma posição de desafio, a ponto de se correr o risco de ser acusado de presunçoso, porque todas as demais pessoas pareciam estar desertando a doutrina que era seu dever defender. É lamentável que tantas pessoas tenham medo de se comprometer. "Perguntem a ele; perguntem a ele; ele falará por si mesmo", é seu pretexto insignificante; enquanto isso, têm o cuidado de se retirar detrás dos arbustos, fora do alcance de fuzilaria, e nunca saem do esconderijo a não ser que você conquiste a vitória, quando, então, elas se apresentariam, na melhor das hipóteses, para receber a sua parte dos despojos. Sempre que um homem é colocado na condição de se ver desertado, na batalha por Cristo, por aqueles que deveriam estar ao seu lado, ele desdenha bater em retirada e diz com verdadeiro heroísmo: "Sou maior de idade: falarei por conta própria. Em nome de Deus, vou dar meu testemunho."

Os cristãos, por mais reservada e retraída que seja sua disposição, são obrigados a falar abertamente quando submetidos a uma pressão muito forte. Os fariseus visaram esse homem e o questionaram detalhadamente. Postularam-lhe perguntas na forma de interrogatório minucioso e rigoroso. "O que lhe fez ele? Como lhe abriu os olhos?" e assim por diante. Ele não parece ter ficado perturbado ou desconcertado pelas perguntas. Deu conta de si, grandiosamente. Autossuficiente, quieto, sagaz, inamovível, ele tomara a sua decisão, e, com domínio total da situação, estava pronto para enfrentar os fariseus. Não hesitou. Pois bem: espero que, alguma vez, vocês e eu sejamos chamados para uma prestação de contas e, ao sermos submetidos a perguntas capciosas, mesmo com o intuito de nos emaranhar, nunca fiquemos "envergonhados de reconhecer o nosso Senhor ou defender a sua causa." Deveríamos ser feridos pela mudez se alguma vez ficarmos envergonhados de falar de Cristo ao sermos conjurados a isso. Caso se chegue a um desafio, no tocante ao lado que apóio, eu hesitaria, alguma vez, em dizer: "Estou com Emanuel, o Salvador crucificado"? Se alguma vez eles nos encostarem contra a parede e disserem "Você também esteve com Jesus de Nazaré", que Deus nos dê graça para respondermos com prontidão e sem hesitação: "É claro que estive, e é claro que ainda estou. Ele é meu Amigo, meu Salvador, meu tudo; e nunca me envergonharei de reconhecer o seu nome." Os cristãos devem tomar posição, e cada um dar, por si mesmo, testemunho nítido e distinto.

Ao passo que outros vituperam e caluniam o nosso Senhor Jesus Cristo, a nós cumpre recomendá-lo e louvá-lo. Os fariseus disseram a esse homem: "Para a glória de Deus, diga a verdade. Sabemos que esse homem é pecador." Então o homem falou, todo agradecido, com seu coração borbulhando de gratidão. "Ele me abriu os olhos." "Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo." Mas quando estiveram a ponto de dizer: "Quanto a este, nem sabemos de onde ele vem", o homem tomou a palavra de modo mais heroico ainda. Voltou-se contra os que o atacavam e os repreendeu pela notável ignorância deles: "Vocês não sabem de onde ele vem", e ele lutou em favor do seu Mestre de modo tão mordaz que eles sentiam vontade de jogar fora o debate como arma e apanhar as pedras dos insultos para apedrejá-lo. Oh! se falarem mal de Cristo, manteremos silêncio? Quando a imprecação faz gelar o sangue, nunca dirigiremos uma palavra de repreensão ao blasfemo? Ouviremos a causa de Cristo condenada na sociedade e, por medo do homem fraco, refrearemos a nossa língua ou atenuaremos a questão? Pelo contrário, vamos lançar o desafio em favor de Cristo, e dizer, imediatamente: "Não posso, nem quero, me refrear. Agora as próprias pedras poderiam falar. Quando meu amigo querido - meu melhor amigo - é assim ofendido, preciso proclamar as honras do seu nome, e assim farei." Acho que os crentes neste país não se aproveitam de metade da liberdade que têm. Se falarmos uma palavra de religião, ou abrirmos a nossa Bíblia num vagão ferroviário ou em qualquer outro transporte público, dizem: "hipócritas!" Eles podem jogar baralho, suponho, num trans-porte público, com total impunidade: podem deixar a noite mais feia com seus uivos, e proferir profanidades de todos os tipos, com toda a liberdade, mas nós seríamos realmente considerados hipócritas se usássemos de igual liberdade. Em nome de tudo quanto é livre, teremos a nossa vez. E, de vez em quando, gosto de ouvir vocês cantarem, para maior perturbação deles, um dos cânticos de Sião, pois eles cantarão as canções da Babilônia num volume suficiente para nos perturbarem. Vamos dizer-lhes que enquanto vivermos num país de liberdade, e nos regozijamos porque Cristo nos libertou, não teremos mais vergonha de dar testemunhos de Cristo do que eles têm das suas iniquidades. Quando eles começarem a pecar e ficarem com vergonha de falar uma palavra licenciosa, então poderá ser a hora - não, e nem sequer então - para guardarmos a nossa religião para nós mesmos.
Vocês percebem, então, que há ocasiões nas quais os homens - homens quietos e reservados - devem falar. Serão traidores se não falarem. Aquele cego não era muito falador. A brevidade das suas respostas parece indicar que ele era um pouco conciso para falar - mas eles o obrigaram a isso. Ficou sendo como um cervo acossado pela caça. Ele foi obrigado a discutir, por mais suave que fosse a sua disposição. E acho que dificilmente existe um cristão que tenha conseguido palmilhar o caminho inteiro para o céu e, ainda assim, esconder-se na quietude, correr de esconderijo em esconderijo, passando sorrateiramente para a glória. O cristianismo e a covardia! Que contradição entre esses termos! Acho que deve ter havido ocasiões em que vocês se sentiram dispostos a falar de si para si: "Pois bem, custe o que custar: a sociedade pode lançar tabu contra mim; posso ser ridicularizado pelas pessoas mais grossas, e posso perder o respeito das pessoas mais fina; mas preciso dar testemunho a favor de Jesus Cristo e da sua verdade." Então, as seguintes palavras passaram a se aplicar a vocês: "Idade ele tem; perguntem a ele; ele falará por si mesmo."

II. É SEMPRE BOM ESTAR PREPARADO PARA FALAR POR CONTA PRÓPRIA. Parece claro que esse homem estava pronto para isso. Quando os pais dele disseram: "Perguntem a ele... falará por si mesmo", havia uma leve piscadela no olho do pai enquanto este falava - com a intenção de dizer: "Vocês vão lidar com uma pessoa intratável. Ele pode falar por si mesmo. Já o conhecemos durante os muitos anos da sua cegueira, e ele sempre tinha uma resposta mordaz para qualquer pessoa que o considerasse bobo; se vocês imaginam que conseguirão da parte dele muita coisa para alimentarem as gargalhadas ou diversão de vocês, estão redondamente enganados. É mais provável que ele se desfaça de vocês, do que vocês dele." E assim, ao entregarem-no aos inquisidores, embora não fossem muitos bondosos, suponho que não achassem que ele fosse um franguinho tenro que precisasse dos seus cuidados; assim, pareciam dizer: "Idade ele tem, já é maior de idade; perguntem a ele. É só perguntar a ele. Po-demos garantir que ele falará por conta própria." E falou mesmo! Ora, aqui quero ter um grupo de cristãos do tipo bem semelhante a ele, e que, quando alguém lhes perguntar algo a respeito da sua santa fé, possam responder de tal maneira que não sejam objetos de escárnio e desprezo, porque revelarão ser mais do que suficientes para enfrentar seus adversários. Mas como, vocês estarão prontos para responder, devemos estar preparados para falar por conta própria?
Desde o início, é bom cultivar um hábito geral de franqueza e de coragem. Não temos necessidade de sermos intrusos e de nos intrometermos no caminho das pessoas e assim nos tornarmos uma amolação e enfadonhos para elas. Longe disso! Mas andemos pelo mundo como aqueles que não têm nada para esconder, conscientes da integridade dos nossos próprios motivos e da retidão do nosso coração diante de Deus; sem precisarmos vestir a armadura e dormir com ela como os cavaleiros da Antiguidade, sabedores de que a verdade desarmada é o melhor vestuário. Mostremos que nada temos para dissimular ou encobrir, nada para disfarçar ou manter no escuro - que o evangelho operou em nós tamanha honestidade e franqueza de espírito e nenhuma tagarelice nos pode levar a enrubescer, e nenhum inimigo pode nos provocar. Contemos aquilo que cremos como sendo a verdade, porque podemos garantir a sua veracidade. Vamos silenciar aqueles que levantam objeções contra tais coisas, não tanto pelo nosso combate quanto pelo nosso caráter. Comprovemos diante deles que temos razão sólida pelo nosso protesto singelo; que realmente recebemos a graça na qual cremos com sinceridade. Nossas palavras terão peso quando os oponentes perceberem que o fruto da nossa piedade está em consonância com a flor da nossa profissão de fé. Há grande poder nesse modo de responder ao adversário.

Tome o cuidado, no entanto, quando você falar, de ter certeza do seu fundamento. Esse homem tinha essa certeza. Disse: "Não sei se ele é pecador ou não"; e assim não ofereceu opinião a respeito de um assunto sobre o qual não tinha conhecimento positivo. Mas quando tinha com fatos sólidos, não havia nada de vago na sua declaração: "Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo!" Esse é um argumento que o crítico capcioso mais astuto teria dificuldade em refutar. Com o cego olhando diretamente para o rosto deles, bastava para deixálos perplexos. E existem alguns entre vocês que passaram por tamanha transformação de caráter que podem dizer, com a pura verdade: "Sei que não sou o homem que era antes. Minha maneira de viver, desde a minha juventude, é bem conhecida de muitos, se quisessem testificar. Mas agora, Deus, mediante o evangelho do seu Filho, abriu os meus olhos, purificou a minha lepra e colocou meus pés no caminho da paz." Mesmo aqueles que zombam do evangelho não conseguem, como muitos entre nós, negar a mudança notável e benéfica que se realizou. Nisso há uma questão de integridade sobre a qual devemos ser muito firmes. Assuma uma posição de firmeza e diga: "Não, vocês não podem julgar isso de modo errôneo. Vocês podem filosofar se quiserem, mas foi o evangelho simples e antiquado das crianças que me transformou, e me levou a amar o que eu antes odiava, e odiar aquilo que eu antes amava. Essa é uma coisa que vocês não podem refutar. É uma coisa que sei."
E é bom, como no caso desse homem, ter os fatos em prontidão para serem aduzidos. "O homem chamado Jesus misturou terra com saliva, colocou-a nos meus olhos, e me disse que fosse lavar-me em Siloé. Fui, lavei-me, e agora vejo." Apresentem o plano da salvação, do modo que vocês o perceberam de início, de modo muito sucinto e claro diante deles. É frequentemente a melhor resposta que vocês podem apresentar diante daqueles que interrogam com o propósito de por defeito e que discutem para depreciar. Contem a eles sobre o evangelho com a mesma emoção com que vocês o receberam na ocasião. Assim como o Senhor lidou com sua alma, assim também contem a eles o que ele fez em favor de vocês. Quem consegue zombar da declaração simples que você faz da sua conversão, forçosamente é um homem de coração endurecido. A transformação que assim foi realizada em você será um fato que ele não poderá contestar. Embora pense que você foi iludido e o chame de fanático, a coisa mais difícil para ele será vir de braços com a sinceridade e confiança que você tem. "Ele abriu meus olhos; e se ele abriu meus olhos, logo, ele veio da parte de Deus. Forçosamente, Deus estava no meio dessa questão, pois nasci cego." Dê uma razão para a esperança que está em você, com mansidão e respeito, a todos quantos se opõem a você.
Os cristãos devem ser como era esse homem - bem disposto a suportar ofensas. "Você nasceu cheio de pecado." Não posso imaginar que o cego se importasse com aquilo que eles queriam asseverar ou insinuar sobre isso. O desprezo deles não poderia privá-lo de seus olhos. Ele simplesmente sacudiu a cabeça e disse: "Agora vejo; consigo ver. Eu era cego e agora vejo! Os fariseus podem me ofender, mas agora vejo. Podem me dizer que sou isto mais aquilo, e ainda coisa pior, mas agora vejo! Meus olhos foram abertos." Assim, filho de Deus, você pode dizer de si para si: "Posso ser ridicularizado; posso ser censurado como presbiteriano ou metodista, batista ou cismático, ou como qualquer outra coisa que quiserem dizer; não me importa. Fui salvo; sou um homem transformado. A graça de Deus me renovou; agora podem me chamar de tudo quanto quiserem." Algumas pessoas ficam incomodadas ao serem satirizadas; diante de uma piada, se encolhem e se sentem lesadas; e aquilo que os homens chamam de gracejo as irrita. O homem que não consegue suportar a risada de um tolo ainda parece um bebê! Mantenha-se firme em pé, e quando você voltar ao seu emprego na loja de tecidos, comporte-se destemidamente. Você que vai trabalhar em alguma grande fábrica e que sofreu interrogatórios e gozações por causa da sua religião, renove sua coragem e diga: "Aqui estou eu, com 1,70 ou 1,80 metro de altura, ou seja qual outra altura, e vou sentir vergonha de alguém rir de mim por causa de Cristo?" Nada disso! Ora, você nem vale os calçados que o deixam em pé, se você se deixa abaixar diante das brincadeiras deles. Não duvido que muitos soldados no refeitório da caserna acham difícil manter o ânimo quando os colegas escarnecem deles com zombaria e desprezo de maneira grosseira; mas afinal, caros amigos, a varonilidade comum não deve nos animar com força moral? Ao conseguirmos lançar mão de uma coisa que consideramos certa, seríamos muito simplórios se abríssemos mão dela por medo de um trote tonto ou de uma careta à toa. Deixe que eles riam. Vão se cansar de nos apoquentar quando descobrirem que nosso temperamento triunfa sobre os truques tolos deles. Deixe os pobres simplórios achar nisso motivo de diversão. Eu, às vezes, me sinto mais disposto a sorrir do que a me entristecer diante das piadas que são contadas às minhas custas. Seus gracejos brincalhões talvez aliviem algumas das lastimáveis tristezas que baixam inesperadamente nas horas de solidão deles. A melancolia celebra carnaval neste mundo louco. E se, de vez em quando, pegam um objeto vivo para sua diversão, e eu mesmo acabo sendo o alvo dos bufões, e daí? Não há possibilidade de que eu seja lesado com isso; o único perigo é que eles possam se prejudicar. Tenham essa atitude, caros amigos, e não se importem com essas bobagens.
Esse homem, nascido cego, cujos olhos foram abertos, estava disposto a enfrentar os fariseus e a tomar a palavra por conta própria, porque sentia intensa gratidão por Jesus, que lhe outorgava o benefício inestimável da visão. Vocês percebem que durante toda a narrativa, embora ele não soubesse muita coisa a respeito de Jesus, tinha consciência de ser este seu verdadeiro amigo, e se mantinha leal a ele, em meio a todas as circunstâncias. Ora, é possível que você e eu não saibamos muita coisa a respeito de nosso Senhor - nem a décima parte daquilo que esperamos vir a saber -, mas ele abriu os nossos olhos; ele perdoou os nossos pecados; ele salvou a nossa alma; e, com a ajuda da sua graça, seremos leais a ele aconteça o que acontecer. Se a gratidão que vocês têm por ele for mantida plenamente, não há o que recear quando forem provocados, quando forem submetidos à prova, não deixarão de ser fiéis ao seu amigo e serão capazes de dizer, em sã consciência:

"Não sinto vergonha de meu Senhor,
Nem de sua causa ser um defensor;
De a honra da sua palavra manter,
A glória da sua cruz ver."

III. TODA PESSOA SALVA DEVE ESTAR DISPOSTA A FALAR POR SI MESMA A RESPEITO DE CRISTO. Já falei que vocês serão levados a isso. Além disso, vocês devem estar preparados quando forem forçados a isso; mas agora estão sendo conclamados a fazer isso de livre e espontânea vontade.
Não somos todos devedores a Cristo se, realmente, fomos salvos por ele? Como poderemos reconhecer essa dívida se nos envergonharmos de Cristo? O testemunho dele é: "Aquele que crer, e for batizado, será salvo." O batismo nos salva? Certamente não, mas aquele que crer é obrigado a ser batizado a fim de assim confessar ao seu Senhor; pois o batismo é "o compromisso de uma boa consciência diante de Deus" (1Pe 3.21). É a resposta grata do discípulo à chamada graciosa do seu Mestre. Vocês sabem como isso se expressa: "Aquele que crê no seu coração e confessa com sua boca será salvo." Não posso legitimamente deixar de confessá-lo, se eu crer no meu coração. Por que eu deixaria de fazê-lo? Já que lhe devo tanto, posso eu pensar em não confessá-lo? Tenho certeza de que, se fosse promulgado um mandamento que nos proibisse de reconhecer o nosso Senhor, de falar sobre ele a alguém, e que nos ordenasse a esconder o segredo dos parentes, dos amigos, e dos vizinhos, eu o acharia muito aflitivo. Mas ele realmente nos manda reconhecê-lo e dar testemunho a ele. Saudamos essa ordem da parte dele, a consideramos muito correta e apropriada, e a ela obedecemos com a maior alegria. Não é assim?
Cada um de nós deve estar bem disposto a tomar a palavra em nome de Cristo, pois cada um, individualmente, deve saber mais sobre o que ele fez em nosso favor, pessoalmente. Ninguém aqui sabe tudo o que Cristo tem feito por mim. E vocês podem dizer: "É verdade, mas, por outro lado, você não sabe o que ele fez por nós." Não, não; todos nós somos devedores a ele, em tudo. Oh, quão grande misericórdia ele tem dado a alguns de nós! Se o mundo pudesse conhecer o nosso estado antes da nossa conversão, talvez nossos cabelos ficassem arrepiados só ao lermos a história da nossa vida. Como a graça de Deus nos transformou! Que mudança! Que transformação! Se os corvos se transformassem em pombos, e os leões se tornassem cordeiros, os charlatões poderiam expor (ou mistificar) o fenômeno com uma ou duas palavras. Mas essas conversões ocorrem todos os dias; e os cientistas mantêm silêncio, ao passo que os zombadores, quando as vêem, fazem caretas contra elas. A transformação é infinitamente maior do que quando os ossos secos são ressuscitados e revestidos de carne. Quando as pedras começam a derreter e a se transformar em correntezas, isso não é nada em comparação com a regeneração que experimentamos. Precisamos contar isso; precisamos conversar a respeito. Sabemos mais a respeito do que as demais pessoas, e temos a obrigação de sermos narradores honestos da narrativa maravilhosa.
Quanto mais testemunhos individuais são dados a respeito de Cristo, tanto maior a força acumulada da soma total deles. Se eu, de modo coletivo, der testemunho de Cristo, em nome de todos vocês, dizendo: "O Senhor fez grandes coisas por nós, e por isso estamos alegres", espero que Cristo seja honrado e que haja alguma boa influência. Mas, se dez, vinte, trinta ou cinquenta pessoas se colocassem em pé, uma após outra, e dissessem: "O Senhor fez grandes coisas por mim", e cada uma contasse a sua própria história, mais convicção seria produzida! Ouvi falar de um advogado nos Estados Unidos que foi para uma reunião dos vizinhos, onde contaram as suas experiências. Era cético, um incrédulo, quando entrou no local, mas ficou sentado ali tomando nota, com seu lápis, das declarações dos vizinhos. Quando, depois, revistou as evidências, disse de si para si: "Ora, se eu tivesse essas doze ou treze pessoas no banco das testemunhas, apoiando minha causa jurídica, eu teria absoluta certeza de vencer o processo. Convivo entre elas. Não são as pessoas mais eruditas que já conheci, mas são bem honestas, fidedignas - com conversa sincera; e, embora cada uma tenha contado sua própria história, todas apontam o mesmo fato: que existe a graça de Deus, e que ela realmente transforma o coração." E assim chegou à sua conclusão: "Pois bem, sou obrigado a crer, depois de tantos testemunhos." E acreditou mesmo e se tornou cristão. Tenho certeza de que se os cristãos testemunhassem mais frequentemente sobre o poder de Jesus Cristo, os testemunhos acumulados surtiriam efeito em muitas mentes irrefletidas, e multidões chegariam a crer em Jesus. O Espírito Santo se deleita em aceitar e abençoar tantas histórias verídicas quanto vocês puderem contar.
Estou ouvindo um e outro entre vocês dizer: "Podem muito bem passar sem a minha história?" Eu responderia: "Não, meu amigo, não podemos dispensar a sua evidência, posto que as diversidades entre as experiências são tão numerosas quanto o são os indivíduos convertidos, embora haja união na operação do Espírito Santo." Nosso Senhor abriu os olhos de muitos cegos, desobstruiu os ouvidos de muitos surdos, libertou a língua de muitos mudos, e é incontável o número dos leprosos que purificou; mas cada paciente poderia contar a você os seus próprios sintomas e a cura que recebeu, com pormenores. A sua história também tem seu interesse especial, enquanto contribui para a narrativa global. Você, pelo menos, ficaria triste se não fosse assim. "O SENHOR escreverá nos registro dos povos: 'Este nasceu ali.'" (Sl 87.6). Sei que vocês gostariam que seu nome fosse mencionado então; e acho que, para você, valeria a pena mencionar agora as misericórdias que você recebeu, exatamente do modo que as recebeu. Falando por mim mesmo, creio que Deus, ao me converter, manifestou um modo específico de fazê-lo, exatamente ajustado à minha necessidade. Meu caso era tão semelhante aos de vocês, que produziu simpatia, e tão diferente, que produziu gratidão especial, e assim acontecia, sem dúvida, com cada um de vocês. Em cada caso, a carreira de vocês, o seu caráter, e as suas circunstâncias eram diferentes. Assim como um mestre-pintor raras vezes pinta o mesmo quadro duas vezes, assim também Deus, o Artista supremo, raras vezes (acho que mesmo nunca), opera exatamente o mesmo modo em dois corações diferentes. Existe uma diferença, e naquela diferença há uma ilustração da multiforme sabedoria de Deus; por isso, queremos ouvir a sua história.
Além disso, o seu testemunho talvez toque no coração de alguém semelhante a você. A jovem Maria, sentada ali, diz: "Ora, eu não sou ninguém; sou mera babá. É verdade que o Senhor Jesus Cristo me purificou e me adotou, mas vocês podem passar sem a minha história." Não, Maria; não podemos passar sem ela. Talvez seu testemunho seja apropriado para outra mocinha como você. Uma empregadinha atendia a esposa de Naamã. Quem, a não ser ela, poderia ter contado à sua senhora que havia cura para Naamã, ou que ele podia ir a um profeta em Israel e ser plenamente restaurado? Conte sua história de modo suave e calmo, e em momentos apropriados, mas deixe que ela seja conhecida. O idoso diz: "Oh, mas agora estou tão fraco. Você pode dispensar qualquer coisa que eu tenha para dizer." Não, sr. Guilherme, não podemos. O senhor é justamente o homem cujas poucas palavras têm pleno peso. De vez em quando, você se encontra com oportunidades selecionadas de levar almas ao Salvador. Alguém pode dizer: "Estou velho demais para pensar nessas coisas"; mas você pode contar como o Senhor lidou com você na sua velhice, e talvez alguém se aproveite da lição. Ora, vocês, operários, se todos tomassem a palavra em favor de Cristo (e sei que muitos entre vocês o fazem), que bom efeito seria produzido; que influência vocês teriam sobre outras pessoas semelhantes a vocês. Obviamente, elas nos ouvem pregar e dizem: "Vocês sabem que ele é pastor. Fala assim por dever profissional. Dizer essas coisas é o emprego dele." Mas quando você conta a respeito daquilo que o Senhor tem feito por você, fica sendo assunto de conversa; esta é repetida muitas e muitas vezes. Sei o que Tomé diz ao chegar em casa. Diz à sua esposa, Maria: "O que você acha daquele Tiago que é meu colega de serviço? Ora, andou falando comigo a respeito da sua alma, e disse que seus pecados foram perdoados, e parece ser um homem tão feliz. Você sabe que ele bebia e xingava da mesma maneira que eu, mas agora, é um homem maravilhosamente diferente; e eu diria, na base daquilo que estou vendo, que deve existir alguma verdade nisso. Um fim de tarde, me convidou para ir à sua casa; o seu lar é tão diferente do nosso." "E quanto a isso, você pode calar a boca", Maria responde, com bastante rispidez; "se você trouxesse seu salário para casa, todas as semanas com regularidade, eu poderia gastá-lo melhor cuidando da nossa casa." Tomé responde: "Estou pensando a mesma coisa. Justamente por ser Tiago um homem religioso é que ele realmente leva para casa o salário inteiro, e acho que há alguma coisa real na conversão dele. Ele não bebe como eu. Não participa de farras e besteiras de todo tipo. Eu, nem teria levado o assunto tanto a sério se o pastor tivesse me falado. Mas agora realmente acho que há algo de bom e genuíno na graça a respeito da qual ele fala. Seria melhor irmos, nós dois, no domingo de noite ao Tabernáculo, ou a outro lugar, e ficarmos sabendo sobre o assunto por nossa conta." Ah, muitíssimas almas são levadas a Cristo dessa maneira. Por isso, Tiago, não podemos passar sem seu testemunho, porque a sua conversa é apropriada para seu próprio grupo. E quanto a você, dama refinada, você diz: "Eu amo o Senhor, mas acho que eu não posso dizer nada no meu círculo e no meu nível de vida." Você não pode? Ah, mas tenho certeza de que você transporá essa pequena dificuldade para atingir um pouco mais de crescimento na graça. Tínhamos entre nós, certa vez, uma pessoa cujo título de nobreza a qualificava a conviver numa esfera "superior" da sociedade, mas sua escolha a capacitou a preferir o humilde companheirismo da igreja. Alguns dentre vocês se lembram bem das madeixas prateadas dela. Ela já partiu de nós, e voltou para o lar na glória.
A sua sorte era lançada entre a aristocracia. Entretanto, com simplicidade mansa, despretensiosa e suave, introduzia o evangelho sempre por onde andava. Muitas pessoas que vieram para ocupar esses bancos da igreja e escutar esse ministro nunca teriam chegado aqui não fosse a vida dela, calma, bela, discreta e santa, e a coragem com que podia dizer, em qualquer lugar e em qualquer ocasião: "Sim, sou cristã; e, mais do que isso, sou dissidente da igreja anglicana; e o que você considerará pior, sou batista; e o que você considerará ainda pior, sou membro do Tabernáculo." Ela nunca se envergonhava de confessar o nome do nosso bendito Redentor, nem de reconhecer os mais humildes dos discípulos de Jesus e lhes oferecer amizade. Vocês fariam bem em seguir o exemplo da fé que ela tinha. Sejam quais forem os círculos em que convivemos, esforcemo-nos para nos tornar centros de influência.
Foi assim que procurei demonstrar a vocês, caros amigos, que cada pessoa tem seu testemunho para dar - um privilégio a ser acalentado não menos do que um dever a ser cumprido -, porque um dom que você recebeu qualifica-o para um serviço que pedem que você desempenhe. Suponhamos que o soldado, ao marchar para a batalha, dissesse: "Não preciso carregar meu fuzil; não preciso atirar no dia da batalha, porque há bons atiradores à direita e à esquerda que estão acertando nos inimigos." Sim, mas quando você estiver em plena fuzilaria, o seu projétil tem seu alvo, e esse alvo do seu projétil não é o alvo de nenhum outro projétil, por isso, atire e deixe-o voar. Todos nós devemos atirar, irmãos; não alguns, a nossa munição deve ser esta: "Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo! É por isso que dou testemunho do meu Senhor. Apesar de quem queira dizer o contrário, ele me abriu os olhos."

IV. E, por fim: POSTO QUE TODO CRENTE, POR TER IDADE, DEVE FALAR POR SI MESMO, NÓS PRETENDEMOS FAZER O MESMO; VAMOS FAZÊ-LO. 

Quanto a mim, pretendo fazer assim. Tenho falado a vocês aquilo que acredito ser a verdade, desde a juventude. Já ofendi pessoas em muitas ocasiões. Espero ofender ainda bastante mais vezes, porque a questão de ofender não é assunto que tomo em consideração em qualquer ocasião. A questão é: Essa é a verdade? É uma verdade necessária? É essencial que seja falada com clareza e divulgada amplamente? E aí sai voando como uma granada de mão jogada no meio da multidão. Que cada ministro de Cristo - e espero que a justiça dessa atitude seja cada vez mais reconhecida - tenha a coragem para falar em favor do seu Mestre; fale abertamente, e nunca resfolegante, mas em nome daquele que o enviou, em nome de Deus, com coragem apropriada para sua comissão. Lábios trementes e rosto covarde num ministro revelam ser ele indigno do cargo que alega desempenhar. Devemos deixar nosso rosto firme como seixo, e dar testemunho da vontade - da verdade inteira, e de nada, senão a verdade, conforme Deus a ensina a nós.
E vocês, membros desta igreja, e vocês, crentes de todos os tipos aqui presentes, vocês não querem, também, adotar esta resolução: "Somos maiores de idade e pretendemos falar por nós mesmos"? Nem todos vocês podem pregar. Espero que todos não tentem fazê-lo. Como o mundo ficaria tumultuado e desordenado se todo homem e mulher se considerassem chamados a pregar! Teríamos uma igreja que só consistiria de bocas, e então haveria um vácuo em parte dela. Não sobrariam mais ouvintes se todos virassem pregadores. Não; vocês não foram chamados para procurar posições de precedência nas assembléias públicas, mas para exercer influência no convívio em particular; mediante uma boa conversa, com uma fala temperada com sal, em casa entre os amigos, os parentes, ou os colegas, com uma dúzia de pessoas ou com uma só, tornem conhecido o que o amor tem feito, o que a graça tem feito, o que Cristo tem feito. Deixem todos saber; tornem tudo isso conhecido. Entre seus empregados, entre seus filhos, entre os lojistas - para onde vocês forem, deixem-no conhecido. Usem seus uniformes por onde forem. Não gosto de ver um soldado cristão que tenha vergonha de ostentar as suas cores. Pelo contrário, vistam-nos. É uma honra servir a sua Majestade. Se houver no cristianismo algo que deixe você envergonhado, afaste-se dele. Não finja crer se você tiver medo de revelar qual é a sua fé; mas se você realmente receber o evangelho, e crer nele como revelação de Deus, nunca sinta vergonha de confessá-lo, mas seja corajoso e confirme a sua vez em todas as ocasiões e em todos os lugares.
Alguém diz: "Ora, sou um pouco retraído." Sei disso, irmão. Mas, venha, deixe de lado um pouco da sua modéstia e se destaque um pouco mais pela sua varonilidade. Já falei do soldado que estava se recolhendo no dia da batalha; mas foi fuzilado por ser covarde. Não é certo ficar retraído quando o dever nos chama, ou quando o perigo conclamar você à frente da batalha. Já ouvi falar de um homem que tinha rosto de leão e coração de cervo. Tome cuidado com uma disposição muito retraída! Às vezes, o que tem má reputação é disfarçado com palavras educadas; assim, a modéstia pode ser timidez, a cautela por ser covardia. Seja valente na causa do seu Senhor e Mestre; não desempenhe, pelo seu silêncio, o papel de traidor que você desprezaria desempenhar pela sua fala:

"De Jesus, vergonha posso ter?
Do caro Amigo de quem minhas esperanças do céu estou a depender?
Não; seja esta a minha vergonha, se eu corar:
De o seu nome não mais reverenciar."

Quebre o gelo agora e fale a outra pessoa a respeito dessa bendita mensa-gem, antes de se recolher à noite. Você quer adotar essa resolução? Cuidado de não adiar até seu coração ficar frio, e as palavras que você pretende fala se congelem nos seus lábios. Pelo contrário, faça-o mesmo, e a obra vai se avultando dentro de você. Dentro em breve, você saudará a oportunidade, tanto quanto você agora se encolhe diante dela. Será uma bênção para a sua vida. Acho que foi Horácio Bonar quem disse:

É vida longa, a vida bem vivida! 
O mais, é jogar fora a existência querida; 
É mais longa a vida de quem pode contar 
De coisas certas, feitas de modo certo, dia após dia, falar.

Viva o seu credo! Seja quem você parece ser 
Levante diante da Terra a tocha divina com todo o seu querer; 
Seja o que você tiver agora para ser feito; 
Siga os passos do grande Mestre perfeito.
Preencha cada hora com coisas que têm duração; 

Resgate os momentos enquanto passam como um furacão; 
A vida em cima, depois de terem passado, 
É o fruto maduro da vida embaixo ter contemplado.
Sua existência; mas Ele não a desperdiça 
Que livremente a deu, devolva livremente sua crença; 
Senão, aquela existência não passará de um sonho ser, 
Seria simples ser, mas não viver.

Caros amigos, alguns entre vocês que são crentes em Cristo nunca o confessaram. Espero que vocês resolvam, a partir deste momento, reconhecer que são seus discípulos e a se tornar seus seguidores fiéis. Vocês têm idade. Alguém comenta: "Sim, sou de idade bastante avançada, pois já passei dos cinquenta anos." Outros entre vocês são mais velhos do que isso e, embora sejam crentes em Cristo, nunca o confessaram. Assim não dá, irmão; assim não serve. Não vale morrer nessa condição; não vale só pensar no tempo presente. Quando Cristo vier, felizes serão os que não se envergonharam dele; mas quando ele vier na sua glória com todos os seus santos anjos, a tremedeira sacudirá aqueles que achavam e diziam que o amavam, mas que nunca ousaram suportar repreensão por amor ao seu nome, nem passar vergonha por causa do evangelho. Espero que essas reflexões os deixem inquietos e os façam dizer: "Com a graça de Deus, vou me filiar a uma igreja crente antes de acabar essa semana." Se você é crente em Cristo, conclamo-o a não tratar levianamente a voz da consciência, mas a cumprir suas promessas ao Altíssimo.

Lastimavelmente, existem alguns que não podem falar em favor de Cristo, de qualquer maneira que fosse, porque não o conhecem. Ele nunca lhes abriu os olhos. Nunca pretendam falar de assuntos que vocês não entendem, nem finjam testemunhar misericórdias que não experimentaram. Vocês devem lembrar-se de que o Cristo que pregamos não é somente o Cristo histórico que foi crucificado, morto e sepultado, mas sempre é o Cristo vivo, neste momento, que continua entre nós mediante seu Espírito - que transforma a nossa natureza, que vira e orienta a correnteza dos nossos pensamentos e da nossa vida, que purifica os nossos desejos e os nossos motivos, que nos ensina a amar uns aos outros, que nos admoesta a sermos puros, que nos exorta a sermos mansos, que nos dá um coração que aspira pelas coisas que estão no alto em vez de nos rebaixarmos atrás das coisas que estão embaixo. Ora, se você nunca se encontrou com esse Cristo, nunca poderá testificar o seu poder. Mas ele pode ser achado. Confie nele. Ele é divino - o Filho de Deus. Seu sangue é o sangue do grande sacrifício do qual falou Moisés e de quem todos os profetas deram testemunho. Ele é o último grande sacrifício de Deus. Venha, e confie nele. E quando você confiar nele, aquela confiança será semelhante ao toque daquela mulher na orla das vestes de Jesus. Assim que tocou nele, foi totalmente curada, porque da parte dele saía poder. Aquele poder continua emanando da sua santa pessoa sempre que o simples toque da fé coloca o pecador em contato com o Salvador. Que o Senhor o leve a crer em Jesus, e depois de você ter crido mediante a fé, venha à frente e confesse o seu nome. Assim você será contado entre seus santos, agora e na glória eterna.

                                             LucioFidalgo